sábado, 27 de fevereiro de 2016

da discrição à descrição: outro peso (01h42)

da discrição à descrição: um peso (01h17)

A última noite mais improvável se repete e tudo o que resta é um "obrigado". A mesma pessoa sentada de pernas cruzadas no trono de Nosso Senhor Jesus Cristo. A mesma pose, o mesmo falar, os mesmos gestos.

O mesmo problema.

– Por que você tá tão calado?
Pelos mesmos motivos de antes. Eu não tenho voz, é tudo superficial. Não existe eu, não existe Deus, não existe o mundo à minha volta. Só existe um problema.

Já não é a primeira vez que eu escrevo sobre um problema, nem a primeira vez que escrevo sobre você, mas sou discreto. Sempre carrego uma idéia no bolso. Sempre carrego uma situação no bolso. Sempre carrego algo superficial no bolso.

O seu texto nunca esteve no meu bolso porque pesaria, por isso sempre carreguei em mim. E o peso desse texto é real pra caralho, chega a ser problemático: de quilos e mais quilos só restou o fin.

Mais um problema resolvido pela metade.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

todo conhecimento é útil (00h50)



Texto sobre texto

Este poderia ser um texto repleto de reclamações. Reclamações das mais variadas, como: "Meu namorado é um bosta.", "Não aguento mais ouvir Bang da Anitta" ou até mesmo "Estou cansada de ser uma perdedora.", mas para a felicidade de vocês, este não é um texto sobre reclamações e muito menos sobre reflexões. É nada mais nada menos que um texto. Um texto sem pé nem cabeça, um texto que não precisa ter sentido algum, e quando você estiver chegando ao final dele, vai perceber que ele não precisa nem de conteúdo, mas por quê? Porque é um texto sem propósito algum, um texto que repete a palavra "texto" inúmeras vezes por burrice da autora, ou apenas pelo fato de que a mesma gosta de repetir a mesma coisa várias vezes.
Essa autora que vos fala palavras e mais palavras repetidas vezes sem sentido algum, a "louca das palavras repetidas", a que tem o namorado de bosta, a que não aguenta mais ouvir Bang da Anitta e que anda meio cansada de ser uma perdedora; esta garota ridiculamente ridícula que acaba de fazer um texto sobre assunto desconhecido e sentido menos ainda (até porque nada nessa vida tem sentido... pelo menos na minha) dedica este texto à todos aqueles que escrevem nada sobre nada, texto sobre texto, dia sobre dia, momento sobre momento, pretexto sobre pretexto e dito tudo isso: desejo-lhes um dia repleto de vida sobre vida.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

fungos apaixonados (14h13)

O funguinho acordou, levantou,
foi até o banheiro e coçou a bunda.
Depois voltou pra cama.

A caminha do pão estava bem podre,
uma mistura de carniça e cecê.

Funguinho beijou sua esposa funga,
recitou Rimbaud, acariciou, se esfregou
e fungou no bolor de todo jeito que pôde.
Depois soltou:

- Eu amo você.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

bala de canela (23h53)

Li agora há pouco um texto de um outro blog, e nesse texto o autor traçava uma linha paralela entre o sabor da balinha de canela e as nossas vidas. Decidi então escrever um texto inspirado, quase um apêndice pela metade, uma errata, e colocando no jogo as minhas próprias cartas.

Eu nunca gostei dessa bala. Minha vó às vezes comprava algumas e eu comia na marra, tentando me distrair com alguma coisa enquanto a bala raspava minha lingua. Nunca me preocupei em entender e apreciar o sabor daquilo, a única preocupação que eu tinha era em não comer outra.

Por quê? Porque meu amigo, essa bala é uma merda.

Tá, o ser humano não é lá essas coisas, mas comparar com essa bala é pilantragem. O ser humano pode até ser pau no cu, mas uma coisa é ser pau no cu e outra coisa é ser uma merda. A bala de canela é o produto do mal e a soma de todos os valores entre o que nós chamamos de "ruim" e "péssimo".

Acho que vendiam essa bala em algum ônibus, não lembro muito bem. O gosto (que eu nunca soube apreciar) era uma mistura de dor e sofrimento com um docinho emulando a "canela". Quando minha mãe abria a bolsa pra tirar alguma bala e eu via essa esfera do Cócito, eu desistia. Eu gemia, até dava dó. Isso não é coisa pra criança.

Me pergunto se alguém ainda vende essa bala... Será que alguém ainda compra? Será que alguém sente saudades daquilo?




dor no ombro (14h21)

Noite passada me fodi com uma dor no ombro, tava foda. Não doía a pele, nem a carne, nem o osso. Doía o éter. Tive que tomar um dorflex.

Mas antes do dorflex eu me contorci. Me debati e me revirei. Quase virei do avesso. Seria mais fácil tolerar 3 propagandas seguidas do spotify. No meu ombro tocava uma música, tocava uma faca, arrastava uma gillette, passava uma versão de Un Chien Andalou dirigida pelo Zé do Caixão. Não podia rir nem chorar.


Eu estava preso na gaiola do meu próprio corpo e o lugar mais apertado era o ombro. A chave do corpo era o dorflex.

Ok, tomei o dorflex. Ai mérmão, dormi que nem um anjinho. Quando acordei (dentro de um ônibus), eu já não era mais eu. No lugar da gaiola, havia um nada. Eu não me contorcia, não me debatia nem revirava. Eu apenas andava.

Quando despertei, a realidade me pareceu confusa. Eu me sentia e já não andava mais, não doía o éter mas ainda doía. A dor já não era resultado do aprisionamento porque eu estava livre, mas sim do dorflex. O dorflex me aprisionou novamente, e tudo o que eu mais queria era sentir aquela dor pungente.

Eu era a droga e não era mais gente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

dossiê pessoal: de longe parece tecnologia da informação, de perto parece um monte de cocô empresarial

Eu tava numa vontade do cão de escrever isso. E vai chover daqui a pouquinho...

De longe parece tecnologia da informação, de perto parece um monte de cocô empresarial.
Eu ocupo um lugar na cadeira da universidade pelo hobby, pelo amor àquela ciência, pela tara às linhas de código, pelo respeito aos mestres. É por Ada Lovelace, por Alan Turing, por Maddog e, em primeiro lugar, por mim. Eu não ocupo um lugar na cadeira da universidade pra ocupar depois um lugar numa cadeira de empresa. Eu não ocupo um lugar na cadeira da universidade pra receber um salário. Eu apenas me ocupo.

Não quero ter clientes, não quero pensar em lucro, não quero meter a faca pra "valorizar meu próprio trabalho". Pra quê ser bem sucedido? Pra quê subir na empresa? Já sei. Pra levantar uma taça. Pra levantar aquela taça.
Aquela taça que muita gente almeja. Aquela taça de cocô.

Você já quis essa taça. Eu também. Todo mundo já quis carregar um pouco de cocô nas mãos, né?

dossiê pessoal: trabalho gratuito em troca de nada

Há algum tempo penso numa proposta de trabalho gratuito. Trabalho produzido por mim mesmo, de mim para todo mundo. O trabalho gratuito é melhor percebido por quem escreve blogs enterrados na 2ª página do google (como o meu), já que não existe nenhuma pessoa além do próprio redator pra divulgar, ou monetização e essas coisas. Não me preocupo com dinheiro produzido pela publicação em blogs, nem pela produção musical, nem pela produção cinematográfica.


- Você garante que ninguém vai achar o corpo?

- Sim, ninguém nunca olha aqui.

(O melhor lugar para esconder um cadáver (ou para achar um blog) é a página 2 do Google)


Eu não me preocupo é com porra nenhuma.

Se preocupar é chato, cansa e dá dor de cabeça. Então, propus o trabalho gratuito. Eu sou o meu próprio escravo e senhorio. Eu sou a minha própria seiva e meu próprio sugador e ninguém mais. Todo o meu trabalho pode ser aproveitado por todos, tudo o que eu produzo não é só meu. Porque tudo o que eu produzo tem o dedo de alguém.

(O papel do artista é produzir cocô?)

Eu sou o cu por onde sai o resultado das pessoas, dos trabalhos diversos, do suor de quem colocou a mão na massa. E é pelo meu cu que sai o meu trabalho. Será que alguém pagaria pra ter um trabalho realizado por um cu? Acho difícil...


leitura dinâmica (14h15)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

o cheiro da virilha (01h37)

Pensei em escrever um texto sobre o cheiro de alguma coisa, mas a primeira coisa que apareceu foi um problema. A primeira dificuldade que encontrei pra escrever esse texto foi lembrar que o nome da virilha é virilha. Pensei em púbis, pelve, procurei alguma informação na página sobre pernas na Wikipedia mas não achei. A solução: digitar "depilar" no google. Automaticamente apareceu um "depilar virilha".

Você já parou pra pensar na quantidade de informação que os buscadores (e.g. google, yahoo, bing????) carregam em forma de links? Digitei "o cheiro da virilha" no google e apareceram 4 sugestões:

- Como tirar o cheiro da virilha;
- Como diminuir o cheiro da virilha;
- O que tira mau cheiro da virilha;
- Como eliminar o mau cheiro da virilha.

E eu apenas digitei "o cheiro da virilha".

Os buscadores carregam todas as soluções dos problemas, tanto os de esquecimento quanto os olfativos, mas não carregam os questionamentos. Por que tirar o cheiro da virilha? Por que diminuir o cheiro da virilha? Por que tirar o mau cheiro da virilha? Por que eliminar o mau cheiro da virilha?

Por que depilar a virilha?

Por que a virilha?

Por que aceitar uma solução dos buscadores pra um problema aparentemente natural do corpo humano? Por que clicar na sugestão de máquinas ligadas em rede? Por que aceitar uma resposta disponibilizada por um amontoado de circuitos?

Seria o mau cheiro da virilha um problema?
Seria um problema ter mau cheiro na virilha?
O que é o mau cheiro na virilha?
O que é o mau cheiro?
Ter mau cheiro na virilha causa algum mal?

O que causa o mal?
O que é o mal?
É possível eliminar o mal?
Se sim, é possível eliminar o mal eliminando o mau cheiro da virilha?
Se não, por que eliminar o mau cheiro da virilha?

Por que as pessoas buscam o fim do mal?
Por que as pessoas buscam o fim do mau cheiro na virilha?
Por que as pessoas buscam o fim dos problemas?
O mal é um problema?
O mau cheiro na virilha é um problema?
Se sim, o que tornou o mau cheiro na virilha um problema?
Se não, por que eliminar a porra do mau cheiro da virilha?



o primeiro texto hiperintertextual

Você chegou ao fim do blog.

Eu poderia ter colocado "aqui começa o blog" no início mas seria tão redundante quanto "fim" no final de uma história. O "fim" na primeira frase do primeiro texto hiperintertextual carrega um puta significado: a partir de agora a coisa é outra. Essa é a última postagem. Vocês ainda não leram meu livro mas já conhecem toda a minha história. Vocês nunca viram meu rosto, nunca sentiram meu cheiro, nunca ouviram minha voz de gralha da porra e já querem saber como tudo continua. Agora, só resta o substrato da imaginação. Só resta o suprassumo da Xuxa.

E aqui, meus caros, aqui começa o blog.