Noite passada me fodi com uma dor no ombro, tava foda. Não doía a pele, nem a carne, nem o osso. Doía o éter. Tive que tomar um dorflex.
Mas antes do dorflex eu me contorci. Me debati e me revirei. Quase virei do avesso. Seria mais fácil tolerar 3 propagandas seguidas do spotify. No meu ombro tocava uma música, tocava uma faca, arrastava uma gillette, passava uma versão de Un Chien Andalou dirigida pelo Zé do Caixão. Não podia rir nem chorar.
Eu estava preso na gaiola do meu próprio corpo e o lugar mais apertado era o ombro. A chave do corpo era o dorflex.
Ok, tomei o dorflex. Ai mérmão, dormi que nem um anjinho. Quando acordei (dentro de um ônibus), eu já não era mais eu. No lugar da gaiola, havia um nada. Eu não me contorcia, não me debatia nem revirava. Eu apenas andava.
Quando despertei, a realidade me pareceu confusa. Eu me sentia e já não andava mais, não doía o éter mas ainda doía. A dor já não era resultado do aprisionamento porque eu estava livre, mas sim do dorflex. O dorflex me aprisionou novamente, e tudo o que eu mais queria era sentir aquela dor pungente.
Eu era a droga e não era mais gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário